Fitava as paredes cinza como se hipnotizada. Imaginava figuras e rostos deformados nas imperfeições do cimento. Sentada com o queixo sobre os joelhos, sentia seus pés entorpecidos sob o jato de águia quente.
Esperava que aquela água pudesse lavar suas tristezas, levar suas incertezas. Tinha vontade de permanecer ali, naquele cubo solitário envolto em vapores. Sentia seus olhos lacrimejantes ardendo. Aquela solidão combinava perfeitamente com sua tristeza.
Sentia vontade de gritar até sentir o ar fugir-lhe dos pulmões. Queria poder assim, arrancar tudo aquilo de dentro de si, mas não podia.
Perdeu a noção do tempo. Perguntava-se se estava ali há horas, ou minutos. Provavelmente horas, pois suas articulações doíam, seus pés estavam dormentes e seus dedos enrugados pela umidade.
Sabia que teria de levantar a qualquer momento. Teria de abrir aquela porta e enfrentar o mundo lá fora.
Queria poder segurar aquele instante, mas seu tempo ia escoando-se com a água. Não podia segurar o tempo, como não podia evitar a água escoando entre seus dedos.
Então chegaria a hora de levantar-se. Recolheria a tristeza e guardaria novamente na caixinha pequena a que pertencia. Vestiria seu melhor sorriso e abriria a porta.
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