Por Favor, não Matem a Cotovia
Curioso que o livro conta a história de como um garoto que quebrou o braço. Achei sim, curioso, pois que, no meio para o final do livro, já havia esquecido que a narrativa havia começado para contar ao leitor a história de um braço quebrado. Envolvente assim é esta história!
"A luz do dia... na minha mente a noite desaparecera. Era dia e a vizinhança agitava-se. Miss Stephanie Crawford atravessava a rua para contar as últimas a Miss Rachel. Miss Maudie inclinava-se sobre as suas azáleas. Era Verão e duas crianças corriam na direcção de um homem que se aproximava à distância. O homem acenava e as crianças faziam uma corrida para ver quem chegava primeiro.
Curioso que o livro conta a história de como um garoto que quebrou o braço. Achei sim, curioso, pois que, no meio para o final do livro, já havia esquecido que a narrativa havia começado para contar ao leitor a história de um braço quebrado. Envolvente assim é esta história!
Scout é nossa narradora, irmã de Jem, o garoto que quebraria o braço. Scout é uma doce menina de nove anos, muito a frente de seu tempo. Ela nos narra os acontecimentos de sua infância em primeira pessoa. Somos transportados para a infância ao ler a primeira metade deste livro, acompanhando Scout e seus melhores amigos Dill e Jem em suas brincadeiras e descobertas. E somos extraídos da infância na segunda parte dele, de maneira dolorosa. Scaut nos descreve o final de sua infância inocente e princípio de sua vida social, onde começa a entender os estratagemas e as hipocrisias da sociedade a qual está inserida. Acredito que seja justamente esta condução da história que tenha me levado a emoções extremas.
Dei muitas risas com Dill e Scout e suas molecagens, e chorei muito também com Scout e Jem, pelo fim da inocência, de descobrir que o mundo não era tão bom e justo quanto eles esperavam e quanto ele deveria ser. Foi de fato uma leitura profunda! Consigo compreender por que o livro se tornou um clássico. Ler este livro despertou em mim, diversas e contrastantes emoções. Houve determinado momento, durante a leitura em que pensei: "Que livro horrível". Pois que fez-me sentir muito mal. Retratando a forma como se instaurava o preconceito, como era tido como algo natural na sociedade... Causou-me repulsa e tive vontade de atirá-lo longe! Mas então, não era o livro a ser horrível e sim a sociedade, que de fato existiu, e que embora tenha evoluído muito, ainda existe.
O livro, é simplesmente belo.
Depois de ler esse livro, passei a considerar Harper Lee, uma mulher admirável, pois foi necessária muita coragem para escrevê-lo. Para desnudar a sociedade e esfregar-lhe à cara toda a sujeira escondida sob a bela fazenda. E foi necessária ainda maior coragem para publicá-lo.
"A luz do dia... na minha mente a noite desaparecera. Era dia e a vizinhança agitava-se. Miss Stephanie Crawford atravessava a rua para contar as últimas a Miss Rachel. Miss Maudie inclinava-se sobre as suas azáleas. Era Verão e duas crianças corriam na direcção de um homem que se aproximava à distância. O homem acenava e as crianças faziam uma corrida para ver quem chegava primeiro.
Ainda era Verão e as crianças aproximavam-se. Um rapaz caminhava lentamente pelo passeio, arrastando, atrás dele, uma cana de pesca. Um homem esperava por ele com as mãos à cintura. Era Verão e os seus filhos brincavam no pátio da frente com o amigo deles, encenando um bizarro dramalhão inventado por eles próprios.
Era Outono e os seus filhos lutavam no passeio, em frente à casa de Mrs. Dubose. O rapaz ajudou a sua irmã a levantar-se e foram para casa. Era Outono e os seus filhos andavam para trás e para a frente pelas esquinas, mostrando nos rostos os desaires e as vitórias do dia. Paravam junto de um carvalho, deliciadas, confusas e apreensivas.
Era Inverno e os seus filhos tremiam ao portão, silhuetas recortadas contra o braseiro de uma casa em chamas. Era Inverno e um homem caminhava pela rua, deixava cair os óculos e abatia um cão.
Era Verão e ele via os seus filhos de coração partido. Outra vez o Outono e as crianças do Boo precisavam dele.
O Atticus tinha razão. Certo dia disse que só conheceríamos realmente um homem quando calçássemos os seus sapatos e caminhássemos dentro deles. Para mim, estar na varanda dos Radleys foi o suficiente."
Por Favor não matem a Cotovia
Autor: Harper Lee
Editora: Difel (portuguesa)
Ano: 2003
ISBN: 9789722906838
Nº de Págs.: 400
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Um comentário:
O livro já entrou na minha lista de favoritos. Incrível como a autora consegue misturar com perfeição as delícias da infância e as atrocidades dos adultos. Um clássico que tem motivos de sobra para ser considerado como tal.
bjo
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